Estimular o empreendedorismo e a inserção de estudantes no mercado de trabalho local: esse é um dos objetivos do Instituto Federal Catarinense (IFC). No Câmpus Luzerna, uma atividade desenvolvida no ano passado envolvendo os cursos de Engenharia de Controle e Automação e Engenharia Mecânica, em parceria com o Núcleo Pedagógico (NUPE), mostra mais um passo em direção a este propósito. O professor Gianpaulo Alves Medeiros, da área da Mecânica, lançou para as turmas o desafio de os alunos desenvolverem ideias para processos do arranjo produtivo local. “Queria que os estudantes utilizassem as ferramentas da instituição, além do conhecimento adquirido nas aulas da disciplina de Metrologia”, conta o docente. O resultado do projeto já rendeu frutos.
Primeiro, os alunos João Pedro Scheurich e Luiz Guilherme Menezes visitaram, no interior do município, uma propriedade do ramo da avicultura. Depois, tiveram a ideia de desenvolver um equipamento para automação do aviário, de forma que todo o controle da temperatura fosse feito através de sensores gerenciados por um computador (CLP). De acordo com o professor, o objetivo do trabalho era tornar a produção de frangos menos dependente do ser humano, fazendo com que as tarefas de grande esforço físico passassem a serem feitas por máquinas – garantindo maior qualidade de vida para o produtor e sua família. “Com automação a produção é planejada e mais efetiva, gerando maior valor agregado e menos desperdício”, diz Gianpaulo.
Projeto escrito, os alunos apresentaram em sala. Na plateia, assistindo ao que foi desenvolvido, estava o proprietário dos aviários visitados. A surpresa: o produtor rural achou tudo tão interessante que pediu aos estudantes que colocassem a ideia em prática. O ciclo do empreendedorismo continuou: o professor Gianpaulo iniciou algumas tratativas com outro acadêmico, Tiago Baratieri, que possui uma empresa júnior na Incubadora Tecnológica de Luzerna (ITL).
Tiago topou na hora. “Sou de uma família que também possui aviários. Sempre acompanhei os rumos deste setor”, fala. “Percebi a necessidade de facilitar o trabalho, pois, da maneira que ele é feito manualmente, o cuidado precisa ser muito constante, o que acaba prejudicando a saúde dos produtores. Automatizando os processos, as atividades ficam mais fáceis para a família do produtor.”
A ideia do projeto é a seguinte: climatiza-se o aviário para reduzir a mão de obra humana. O funcionamento se dá a partir da seguinte junção: um controlador que recebe os dados do ambiente, interpreta e toma decisões; um painel de acionamento elétrico que recebe os sinais elétricos e ativa os motores para o controle da temperatura; e um sistema de ventilação, cortinado, que transforma a energia elétrica em mecânica e possibilita o controle da temperatura.
O proprietário dos aviários, Júlio Antônio Marquez, comemora os resultados. “Com a automatização a temperatura fica correta. O frango não passa frio, nem calor. É como um ser humano: se levar um choque de temperatura, pega um resfriado ou uma gripe, o que acarreta na perda de peso”, explica Marquez. “É muito interessante termos aqui na região um sistema assim. Não precisamos procurar em outros locais.”
O filho mais novo do produtor rural, Guilherme Marquez, também estuda no IFC Luzerna. Cursa o Ensino Médio Integrado em Automação Industrial. Sabendo disso, Guilherme entrou como estagiário da empresa do Tiago. Assim, terá a possibilidade de estar em contato com várias ferramentas de engenharia que a empresa utiliza, como gestão de projetos, planejamento, execução de cronograma, programação dos computadores, montagem de equipamentos, etc.
“Já como aluno de Ensino Médio, ele poderá utilizar na prática os conceitos técnico-científicos adquiridos em sala de aula”, diz o professor Gianpaulo. “O objetivo é de que, após concluir o curso, Guilherme esteja apto a gerenciar toda a automação da empresa da família e também aplicar novas ideias para controlar e automatizar outros processos, como por exemplo o abate e o corte das aves. Ou seja: o projeto também é uma forma de o aluno não deixar a propriedade familiar para se desenvolver como profissional.”
ENSINO E APLICAÇÃO LOCAL
Para o professor do IFC Luzerna, o projeto de motivar os alunos a aplicarem seus projetos na região deve ser algo constante. “Temos duas grandes áreas na região: o agronegócio e a indústria metalmecânica. Este projeto do aviário atinge ambas, pois desenvolve a produção de aves e coopera com as empresas de tecnologia incubadas, que podem ganhar corpo e sair da incubadora”, salienta Gianpaulo. “Além disso, o IFC cumpre seu papel de uma forma ímpar, envolvendo os cursos de Ensino Médio Integrado e os superiores de engenharia junto com a comunidade.”
De acordo com Ademir Bazzoti, pedagogo da instituição, é ideia é muito válida. “O projeto proporciona aprendizagem aos estudantes através do conhecimento contextualizado e integrado. Primeiro, pela aplicação dos princípios do conhecimento científico mediado pela tecnologia com a realidade. Depois, pelo sentido significativo do conhecimento desenvolvido no curso, o que perpassa a articulação entre os diferentes níveis de ensino”, afirma. Ainda segundo Ademir, essas iniciativas “proporcionam ao aluno a capacidade de perceber, analisar e agir sobre a realidade, gerando condições de compreensão sobre as relações socioeconômicas estabelecidas no contexto em que o estudante vive”.
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Wagner Lenhardt
Jornalista – MTE 0003635 JP-SC
Coordenação Especial de Comunicação – CECOM
Instituto Federal Catarinense (IFC) – Câmpus Luzerna
Júlio Marquez, Tiago Baratieri e o professor do IFC, Gianpaulo Alves Medeiros no aviário automatizado (Foto: Divulgação/IFC Luzerna)
O proprietário dos aviários, Júlio Marquez, com o aluno Tiago Baratieri: equipamento de automação reduz mão de obra dos trabalhadores (Fotos: Divulgação/IFC Luzerna)